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Livro “Na lingua da maré” apresentado em Peniche

O livro “Na lingua da maré” foi apresentado em Peniche no dia 4 de novembro às 16h00 no Auditório do Edifício Cultural em Peniche.
Inserido no programa “Novembro, mês do Mar” o livro editado para assinalar os 80 anos da Mútua foi apresentado em Peniche, onde a pesca e o mar continuam a marcar o ritmo da cultura e da identidade local. Os autores Abel Coentrão e Helder Luís estiveram presente e foram acompanhados por João Delgado, diretor da Mútua dos Pescadores.

Celebra-se a 19 de novembro um ano do lançamento desta obra que juntou Abel Coentrão (jornalista) e Helder Luís (fotógrafo, designer), que através dos seus textos e fotografias colocam frente a frente pessoas e lugares de vários lugares da costa portuguesa, cada um com a sua história e problemática, aproximando-os uns dos outros e religando-nos também a todos em torno desses territórios e identidades.
O livro ajuda-nos a compreender melhor o país marítimo que somos efetivamente, por mais que nos queiram de costas voltadas.
Um livro baseado em reflexões, observações, recolhas bibliográficas, entrevistas e trabalho fotográfico realizados pelos autores, resultado de viagens a vários pontos da costa de Portugal continental e dos arquipélagos da Madeira e dos Açores, contatando com diversas pessoas e lugares das comunidades marítimas a quem os autores agradecem, “pelo tanto que [n]os inspiraram ao longo da viagem até este livro, que é um cais de papel onde cabe um pouco das suas vidas”.

2º Congresso da Pequena Pesca

A 2ª edição do Congresso da Pequena Pesca, decorreu no dia 4 de novembro, no Cineteatro Bombeiros Voluntários de Vila Praia de Âncora.

Helder Luís moderou o primeiro painel dedicado à pequena pesca.

Painel 1 – Perspetivas e Valorização da Pequena Pesca
Portela Rosa (Vianapesca)
Carlos Vilas Boas (Associação Pescadores Profissionais do Concelho de Esposende)
Manuel Marques (Associação de Armadores de Pesca do Norte)
Carlos Cruz (APROPESCA)

Livro “Na lingua da maré” na feira do livro do Porto

“Na língua da maré, crónicas de mar e de mareantes – 80 anos da Mútua dos Pescadores” continua a dar à costa. Depois de terem estado em junho na Feira do Livro em Lisboa, os autores Abel Coentrão e Helder Luís, irão ao encontro dos seus leitores na Feira do Livro do Porto, para uma sessão de autógrafos, no dia 10 de setembro, domingo, último dia da Feira, pelas 16h00, no stand da Âncora Editora (119).

Até lá a Feira continua a dar que falar, fazendo sair as palavras dos livros para a rua, ligando os poetas e escritores aos seus leitores, e fazendo-as subir aos palcos do teatro e da música.

Programa e mais informação aqui: https://www.feiradolivro.porto.pt/programa/

O livro “Sardinha” em destaque na última edição do jornal Expresso

Versão online do artigo.

O livro “Sardinha” foi destacado na última edição (#2652-25/8/23) do jornal Expresso. Um artigo do Ricardo Dias Felner.

Conhecemos mal a sardinha, tão mal que a comemos cedo demais e a desprezamos quando está magnífica — agora mesmo, entre agosto e setembro

Ricardo Dias Felner

Texto integral do artigo:

Se andarem pela zona sul da Póvoa de Varzim, pelas 21h, deverão ver homens solitários andando pelas ruas vazias com um balde na mão. A maioria dirige-se para a churrasqueira Coração do Bairro Sul que, por essa altura, já terá na esplanada outros homens e seus baldes. Muitos são da mesma família, conhecem-se há anos e há anos que cumprem a mesma rotina. 
Daí a minutos, começarão a estacionar ali várias carrinhas. Os homens dos baldes hão de partir, prolongando as conversas do snack-bar. Para onde navegará o mestre, hoje? Será que o peixe andará mais para sul, como ontem? Será que haverá quinhão, ao amanhecer? 
A pesca do cerco é uma aventura incerta, anónima e desconhecida. À maioria dos portugueses interessa o produto final. E, mesmo assim, é como um namoro estival precoce, entre maio e julho. Conhecemos mal a sardinha, tão mal que a comemos cedo demais, quando é um pauzinho seco, e a desprezamos quando está magnífica, entre agosto e setembro. Agora mesmo. 
Este ano, só nas últimas semanas ela tem aparecido nas bancas em todo o seu esplendor, com aquela camada leitosa entre a pele e a carne. Só agora ensopa o pão de gordura. Tragicamente, por estes dias muitas ficam por vender, tanto no mercado como nos restaurantes, e isto apesar de estarem quase a metade do preço a que se vendiam durante as grandes festas populares de Lisboa e Porto. 
Os homens dos baldes sabem disto, mas nada podem contra os ímpetos da nação. Não chegam ao foodie e ao influencer. Vivem longe das outras pessoas. Têm outros horários, andam noutros territórios, navegam noutras águas. Na Póvoa de Varzim, em Matosinhos, em Peniche, são uma tribo à parte. Homens na penumbra fumando, em silêncio, sem ninguém a quem contar a aventura da noite anterior e da que está por vir. A aventura da sardinha, da pesca de cerco. 
Mas há exceções. No dia 5 de agosto de 2019, o Coração do Bairro Sul teve uma visita inesperada. Atrás de uma máquina fotográfica estava um rapaz com cabelo em franjinha, mais habituado às ferramentas do iMac e do Adobe InDesign, da Fuji e da guitarra, do que a dornas e guinchos, a aladores e bússolas giroscópicas. Helder Luís, designer gráfico, artista de vários instrumentos, com exposições em fundações e publicações internacionais, apareceu no Coração do Bairro Sul vindo de outra vida. Antes de se meter num barco de pesca, preferia cavala a sardinha, o rio ao mar.
Algures em 2017, surgiu-lhe, contudo, uma oportunidade acidental. Estava a mudar de casa. Ia continuar como designer e artista freelancer, eventualmente trabalhando para os mesmos clientes, da Leya à Caixa Geral de Depósitos. Mas queria fazê-lo no campo. “Ia viver para o interior do país, perto de Arganil. Ia construir uma casa daí a uma semana. Até que vieram os incêndios de 2017. Arderam-me oliveiras centenárias, árvores de fruto. Eu e a minha mulher íamos fazer azeite, trabalhar na terra, tínhamos a vida orientada nesse sentido.” 
Nessa circunstância frágil, surgiram então dois convites importantes: um para a mulher, em Lisboa, outro para ele, no Porto. No seu caso, tratava-se de uma instalação em Serralves, sob a temática do mar. O desafio levá-lo-ia a embarcar pela primeira vez e, desde então, nunca mais parou. Nos quatro anos seguintes, andou em traineiras de norte a sul do país, sempre na pesca do cerco — no âmbito de uma residência artística patrocinada pela Câmara da Póvoa de Varzim. Tem previstos cinco projetos, mas o mais monumental deles é o que aqui se trata.

Um documento ímpar

O livro “Sardinha” é um livro de fotografia, mas não será, com certeza, um postalzinho de mar e gentes, dourado, céu azul e pôr do sol, filtros e luz artificial. “Sardinha” é um documento meticuloso sobre a mais portuguesa das artes de pesca e, porventura, sobre a mais ignorada. Sem etnografia de academia, nem neorrealismo primário, mas com as coisas como elas são. Quando é noite, quando o céu está cinzento e chove e troveja, as imagens são o que pode o obturador. Sem flash, sem Photoshop. São o que é tantas vezes a pesca: escura, tremida, balançada, incerta. 
E acresce que em “Sardinha” participaram os melhores. Pedro Salgado, um dos mais notáveis ilustradores científicos portugueses. Diana Feijó, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), que fez a revisão científica. E Álvaro Garrido, professor catedrático da Universidade de Coimbra, o maior especialista português vivo em história do mar e das pescas. 
Álvaro Garrido escreve, entre outras coisas, esta clarividência: “A pesca da sardinha é uma saga humana pouco mais do que invisível. Ocultada pelo imaginário épico que costumamos associar às pescas longínquas no Atlântico Norte e no Atlântico Sul (bacalhau e pescada), a sardinha só é objeto de lembrança quando, ciclicamente, há notícia de naufrágios e de vidas perdidas no mar, ou quando se reabrem debates efémeros em torno da escassez do recurso.”
E, no entanto, estamos a falar da mais importante das pescas portuguesas. Segundo dados de 2020, a pesca do cerco emprega 2046 pescadores e 138 barcos. De acordo com os dados fornecidos no livro, para o mesmo ano, foram capturadas 14,5 mil toneladas de sardinha, um volume extraordinário se tivermos em conta os meios, a técnica e o tempo do defeso, quase seis meses por ano. 

Para Helder Luís não há outra arte de pesca tão emocionante como esta. Em certos portos, como o de Peniche, ouve-se um tiro de partida e tudo. “Há quem lhe chame a corrida mais louca do mundo”, disse-me o artista plástico, que passou largas temporadas nesta cidade piscatória, ora nos barcos ora comendo e dormindo com as tripulações nos armazéns da lota local — por sinal a que mais sardinha movimenta no país, à frente da lota de Matosinhos.

Da noite para o dia

Ao contrário do que acontece na Póvoa de Varzim, onde se pesca de noite, em Peniche, pelas 14h, os barcos alinham-se no porto para largar. Depois, uma das traineiras — sempre o “Mestre Comboio” — faz soar a buzina e elas arrancam a todo o diesel, e há de haver um vencedor — sempre o “Mar Eterno”, um barco do Norte particularmente rápido. Fora o lado lúdico, quem ganha merece o reconhecimento dos pares, mas sobretudo faz melhor negócio. “Por regra, o primeiro a chegar ao banco, chega primeiro à lota e vende a sardinha mais cara.” 
Desde que partem até voltarem a terra é um contrarrelógio, um jogo do gato e do rato. O gato é o mestre do barco, figura-chave. O mestre decide sozinho em que águas vai largar a rede. E o mestre é a cara do barco. “Há mestres que saem de casa e já sabem para onde hão de ir, só com a intuição”, atesta Helder Luís. “Os mais velhos nem olham para os instrumentos, porque começaram sem eles. Pensam: ‘Ontem, o peixe andou por ali, amanhã vai andar por acolá. Hoje a corrente está assim, por isso…’” 
De todos os lobos do mar que Helder Luís conheceu, nenhum representa tão bem a posição como Agonia Torrão, 50 anos, do mítico “Deus Não Falta”. Agonia Torrão, pescador desde os 13 anos, nascido numa família pesqueira, é esse líder incontestado, por vezes duro e polémico, sempre disposto a mais uma corrida. O seu barco é tido como o campeão nacional da sardinha, mas também como o que melhor trata a sua tripulação, tanto a de mar como a de terra. 
De resto, usa todos os recursos para pescar mais, para faturar mais. Um deles é ajudar o IPMA nas suas pesquisas, durante o defeso. Outro são fruto da experiência e da liderança. O facto de o “Deus Não Falta” ter matrícula em Peniche, apesar de ser do Norte, por exemplo, não é um acaso, mas uma conveniência. É que, por lei, para se poder pescar em certos bancos, particularmente abundantes em fauna, como o das Berlengas, é preciso que a embarcação esteja aí registada. 
A tripulação de “Agonia Torrão” é tudo gente do Norte e a gente do Norte é especial. As traineiras mais aguerridas vêm das Caxinas, de Matosinhos, da Póvoa. “A malta do Sul diz que os do Norte, se pudessem, traziam água para terra. São muito aguerridos. Nem que o mar esteja a partir, eles vão sempre. São mais destemidos e ambiciosos. Têm menos paciência. Levam tudo à frente. É tudo boa gente, mas são muito competitivos e desestabilizam os portos por onde passam.”
Os barcos do Norte descem costa abaixo, se for preciso, na perseguição dos cardumes ou dos preços mais altos pagos em lota. A competição com outros barcos vai afrouxando à medida que navegam para sul, podendo navegar até Quarteira e Portimão. Quando os pescadores algarvios veem chegar barcos como o “Deus Não Falta” já sabem que a festa é deles. Nada a fazer, é deixar passar. 
As rivalidades acontecem, sobretudo, entre os barcos campeões. “Existe mesmo um ranking do dinheiro que fazem em lota”, concretiza Helder Luís, acrescentando: “Isto não significa que não se estabeleçam parcerias entre amigos, entre famílias, entre mestres. Muitas vezes, quando um barco cerca um grande cardume, chama outro barco amigo ou da família. Há famílias com três barcos.” No caso do “Deus Não Falta”, isto tem acontecido com o “Mar Eterno”, de Josué Coentrão, ex-“Pérola das Caxinas”. No livro “Sardinha” está documentado um momento em que o mestre chama Agonia Torrão, pelo rádio, para partilhar um cardume das Berlengas, suficiente para encher as suas dornas.
Para se chegar ao momento da partilha, todavia, é preciso que os elementos se alinhem. Primeiro, é preciso encontrar o cardume e rezar para que não seja de biqueirão, daqueles estouvados. Helder Luís escapou a algumas situações complicadas por causa deste peixe. “Ia para embarcar e não embarquei. E o barco esteve quase a afundar”, recorda. “A sardinha vem à tona, mas o biqueirão embica, vai para o fundo e, como é estreito, fica preso na malha da rede. Como tem tendência a juntar-se em cardume, e os peixes nadam todos na mesma direção, são capazes de levar um barco atrás.”
Depois, há o lançamento da rede do cerco. Estamos a falar de um monstro com um quilómetro de comprimento e cinco toneladas de peso. Não é um brinquedo, não é um xalavar de bivalves. Uma rede pode custar €100 mil. Se acontecer uma rutura, o prejuízo será grande: pelo conserto e pelo que representa ter um barco parado. É na altura de lançar a rede que os pescadores, o mestre, falam com o peixe. Como diz Luís Diamantino, da Câmara da Póvoa de Varzim, no texto de abertura do livro (um elogio aos pescadores, bem acima do nível literário costumeiro da prosa institucional), os pescadores “ralham com o peixe”, como se ele tivesse uma inteligência coletiva. 
Cercado o peixe, há que trazê-lo para bordo. É o clímax, mas também o momento mais exigente fisicamente. “A minha pesca favorita é a do cerco, porque conserva este lado humano da pesca braçal antiga, que era feita nas lanchas poveiras”, diz Helder Luís, neto de um pescador da Póvoa de Varzim. Há máquinas para puxar as redes, mas as duas dezenas de homens que tripulam as traineiras continuam a ajudar.

Sustentabilidade sem sustento

O esforço nem sempre compensa. Não porque escasseie sardinha. Helder Luís diz que os stocks de sardinha recuperaram, nos últimos anos, graças à gestão e aos limites impostos pelo Governo. O mesmo não se poderá dizer de outros peixes, apanhados com redes de emalhar ou armadilhas ou outras artes de pesca que não o cerco. “Aí, nota-se que o peixe rareia, cada vez mais. Tem havido pouco polvo, por exemplo. Agora, o cerco é a pesca mais sustentável que há, porque só se atinge aquela espécie, não há peixes misturados nos cardumes.” 
A questão é que, havendo sardinha, nem sempre o comércio paga as despesas. “A maior queixa é com a venda. O preço a que é vendido na lota e o preço a que se vende ao público. A desproporção é quase criminosa”, atira. “É triste ver o esforço que foi feito, o dinheiro que se gastou em gasóleo, em redes, em pessoal, todo esse custo, que já vem da época do defeso, em que se gastaram milhares de euros em reparações e manutenção dos barcos, e depois a maior fatia dos lucros não fica para quem pesca.” De acordo com números apresentados em “Sardinha”, para o ano de 2020, a venda em lota da sardinha andou, em média, nos €1,53/kg, enquanto nos supermercados estava a €5,21/kg. 
A sardinha é considerada o petróleo do mar português e terá os seus magnatas — mas não serão, por certo, os pescadores. Naqueles baldes, quando o sol estiver a nascer e eles voltarem para casa, pela zona sul da Póvoa de Varzim, não estarão maços de notas de €500. O balde trará só peixe para alimentar a família. Se o mar deixar.

Entre redes e histórias, pescando memórias

Conversa à volta do livro e da exposição sardinha com Helder Luís e cinco mestres da pesca do cerco: Agonia Torrão (Deus não Falta), Alberto Arteiro (Mestre Lázaro), Alberto Torrão (Fátima Torrão), Álvaro Leite (Virgem Santíssima) e Josué Coentrão (Mar Eterno).

O Diana Bar recebeu, este sábado, a tertúlia “Entre redes e histórias, pescando memórias”, uma iniciativa criada a partir do livro Sardinha e da exposição inspirada pelo mesmo, aberta ao público até dia 31 de Agosto.
A tertúlia contou com a participação do autor da obra, Hélder Luís, da Vereadora do Pelouro do Turismo da Câmara Municipal, Lucinda Amorim, assim como de alguns mestres locais da pesca do cerco.
No âmbito de uma residência artística na Póvoa de Varzim, e durante o período de quatro anos, Helder Luís percorreu o mar português a bordo de várias embarcações, a partir de quase todos os portos de pesca do país, acompanhando a vida no mar de muitas tripulações.
Esta viagem sem guião, visou colocar em evidência a dimensão nacional da pesca da sardinha, a pesca das pescas do mar português, e dar expressão a uma saga humana ainda invisível, com exceção das notícias de naufrágios e dos debates sobre a escassez do recurso.
No formato de exposição itinerante, com imagens, infografias e outros conteúdos provenientes do livro, este pretende chegar a mais pessoas, que assim poderão passar a conhecer a dimensão e a arte da pesca do cerco.

https://www.cm-pvarzim.pt/comunicacao/noticias/entre-redes-e-historias-pescando-memorias/

Cartaz do evento.

Na língua da maré apresentado na Nazaré

Apresentação do livro “Na língua da maré” de Abel Coentrão e Helder Luís, com João Delgado e Célia Quico, na 48° Feira do Livro da Nazaré

“Na Língua da Maré, Crónicas de mar e mareantes“ foi produzido e publicado em 2022 para assinalar os 80 anos da Mútua dos Pescadores. Um livro muito bem pensado, muito bem produzido, muito bom de se ver e de se tocar: 

– com belos textos, fotos maravilhosas e com um design irrepreensível.

Os responsáveis da Mútua dos Pescadores colocaram como objectivos desta publicação contribuir para “uma melhor compreensão do peso simbólico, económico, social e político do sector marítimo em Portugal” e também a valorização das “vidas das pessoas e das comunidades que são” – e cito – “a razão de ser desta cooperativa de utentes de seguros”. E na minha perspectiva, de humilde leitora, estes objectivos foram plenamente cumpridos – até mesmo em muito superados.

O livro leva-nos numa viagem ao longo da costa portuguesa, com paragens em terras-mar como Caxinas, Vila Chã, Afurada, Peniche, Praia da Vieira, Nazaré, Câmara de Lobos, Caniçal, Ponta Delgada, Rabo de Peixe, Fonte da Telha, Sines, Sagres, Quarteira, Santa Luzia, Olhão, Culatra, sempre reflectindo sobre a sustentabilidade ambiental, social e económica destas comunidades marítimas de Portugal.

Os autores apresentam-nos a mulheres e homens do mar, como Eugénia Cardoso de Peniche, Sandra Lázaro do Sado, Maria de Lurdes Baptista de Vila Franca do Campo em São Miguel, José Serrão do Caniçal na Madeira, Manuel Vieira Moniz de Rabo de Peixe em São Miguel, Trajano Martins de Sagres, entre outros…

Assim, os autores dão a conhecer pescadores e pescadoras, mas também outras profissões do mar, em particular as novas profissões, como as que estão associadas ao cultivo e transformação de algas para alimentação humana, à observação de cetáceos, à captura e criação de tubarões para grandes aquários, entre outros… 

A páginas tantas (mais exactamente, na página 17), lemos o seguinte:

“o pescador precisa de trabalhar mais com a cabeça e menos com a força dos braços” 

– disse Jerónimo Viana das Caxinas.

Julgo que esta é uma das frases-chave deste livro.

E aqui já encontramos algumas respostas a este desafio.

Vejam o exemplo dos apanhadores de percebes das Berlengas e da Co-Pesca, que levam a cabo “um mecanismo de decisão partilhada, controlo e acompanhamento das capturas”, como escreve Abel Coentrão, tendo em vista a “sustentabilidade da espécie e de quem dela vive”.

Ou o exemplo dos armadores de Sesimbra e da Artesenal Pesca, uma cooperativa que valoriza as pescarias dos seus cooperadores, possuindo uma fábrica de filetagem e congelação de peixe, algo único no contexto português, escreve Abel Coentrão.

E ainda o exemplo vindo dos Açores, ilustrado por Paulo Silva, que criou a empresa Há Mar para organizar passeios e sessões de pesca turística, mantendo a sua actividade profissional de pesca, desta forma diversificando as suas fontes de rendimento e também contribuindo para a economia local.

Uma nota final: quando estava a ler este livro em Junho passado, por coincidência também estava a ler outro livro de crónicas de mar e mareantes: “Os Pescadores” do Raúl Brandão, publicado em 1923. E se é possível – e quase inevitável – identificar semelhanças do livro de Raúl Brandão com este de Abel Coentrão e Helder Luís, também é possível – julgo que desejável – assinalar as diferenças. Se Raúl Brandão como que pinta grandes panorâmicas, grandes paisagens marítimas, por vezes se aproximando dos homens e mulheres do mar, mas mantendo uma certa distância, de certa forma reduzindo as pessoas a figuras-tipo ou a figurantes de um épico possível num pais periférico e pobre …

No caso de Abel Coentrão e Helder Luís temos outro tipo de perspectiva, com maior proximidade, mas não esquecendo a devida contextualização histórica e sócio-económica. Aqui temos grandes panorâmicas, mas também planos médios, planos aproximados e até muito aproximados – verdadeiros close-ups, retratos próximos de homens e mulheres do mar. Esta proximidade – até mesmo esta profunda empatia com os mareantes – é das marcas fortes deste livro, que nos inspira a descobrir ou redescobrir o nosso país e as nossas gentes, com o mar, sempre com o mar… 

Célia Quico

Inauguração da exposição “Sardinha”, na Póvoa de Varzim

Este exposição surge no seguimento da publicação do livro Sardinha que documenta a pesca do cerco, mais conhecida pela pesca da sardinha, e os homens que dela fazem parte. Durante quatro anos, no âmbito de uma residência artística na Póvoa de Varzim, Helder Luís percorreu o mar português a bordo de várias embarcações, a partir de quase todos os portos de pesca do país, acompanhando a vida no mar de muitas tripulações. Uma viagem sem guião, que coloca em evidência a dimensão nacional da pesca da sardinha, a pesca das pescas do mar português, mas também uma saga humana pouco mais do que invisível, a não ser quando há notícia de naufrágios ou quando se reabrem os debates sobre a escassez do recurso. 

Agora, no formato de exposição itinerante, imagens, infografias e outros conteúdos provenientes do livro sardinha chegarão a mais pessoas que poderão assim conhecer a dimensão e a arte da pesca do cerco.

A exposição foi inaugurada no dia 27 de junho, pelas 17 horas, no Diana Bar, na Póvoa de Varzim. A exposição ficou aberta ao público até ao dia 31 de Agosto de 2023.

Fotografias de Pedro Mesquita / CMPV

Livro “Sardinha” apresentado no Museu Marítimo de Ílhavo

O livro “Sardinha – o sem fim da pesca do cerco” foi apresentado sábado dia 24 de Junho no Museu Marítimo de Ílhavo dentro do programa do evento Tanto Mar. A apresentação este a cargo do director do museu, Nuno Miguel Costa.

Tanto Mar que entra pelo Museu adentro! Navega-se pelas aventuras da pesca do bacalhau e põe-se a imaginação a trabalhar. Pescam-se algumas ideias, descobrem-se tesouros e os segredos do fundo do mar.

Dias 23 e 24 de junho, o programa “Tanto Mar!” divide-se entre o Museu Marítimo de Ílhavo e o Centro de Religiosidade Marítima, com uma Conversa de Mar, a apresentação de um livro, uma oficina e ainda uma tertúlia.

Programa

23 de junho (sexta-feira)

21:30
Tertúlia – Memórias Viajantes: Senhor Jesus dos Navegantes

24 de junho (sábado)

10:00 – 13:00
Oficina de Nautimodelismo – Veleiro Estático (sessão 2)

17:00
Conversa de Mar: “Cem anos de investigação da Sardinha Ibérica em portugal: da biologia às pescas”
“Sardinha”, apresentação do livro de Helder Luis