Fotografia do Caminho de Jacinto, Tormes, Santa Cruz do Douro. Este caminho, percorrido por Eça de Queirós em 1892, quando visitou Tormes pela primeira vez, foi decisivo como inspiração para o seu livro “A Cidade e as Serras“.
Decidi basear-me na obra de Eça de Queirós, A Cidade e as Serras, para captar uma imagem para uma exposição dedicada a este escritor português, e percebi imediatamente que teria de viajar até Tormes, o local que inspirou a obra e onde se situa a Fundação Eça de Queirós, para o fazer. Passei um dia inteiro em Tormes, absorvendo a paisagem e acompanhando-me com um pequeno texto adaptado do conto “Civilização” e da obra “A Cidade e as Serras” de Eça de Queirós:
“Os vales fofos de verdura, os bosques quase sacros, os pomares cheirosos em flor, a frescura das águas cantantes, as ermidinhas branqueando nos altos, as rochas musgosas, o ar de uma doçura de paraíso, toda a majestade e toda a lindeza. Deixando resvalar o olhar observe os vales poderosamente cavados (…) os bandos de arvoredos, tão copados e redondos de um verde tão moço e sinta, por todo o lado, o esvoaçar leve dos pássaros.”
Eça de Queirós
A minha intenção era vivenciar o caminho que Eça de Queirós percorreu, quando viajou para Tormes pela primeira vez em 1892, para visitar a propriedade herdada pela sua esposa. Para tal, decidi percorrer a rota pedestre que, segundo o relato do romance A Cidade e as Serras, começa na estação de trem junto ao rio, estendendo-se montanha acima, por entre caminhos naturais, até à propriedade. Primeiro tomei o caminho oposto, descendo até à estação, o que demorou cerca de uma hora. A subida, por sua vez, levou cerca de duas horas. Numa das poucas ocasiões em que parei para decidir qual caminho tomar e descansar à sombra de um túnel de vegetação, a imagem que escolhi para representar o texto mencionado surgiu diante de mim naquele momento.
Embora a paisagem tenha sido irreparavelmente alterada pela mão do homem, a natureza ainda domina a maior parte do vale e, quando exploramos os seus caminhos, por um momento somos transportados para a época em que Eça de Queirós os percorria. O verde luxuriante, o som da água corrente no riacho, o chilrear dos pássaros, o aroma da fruta madura ainda nos pomares… tudo isso ainda está lá, trazendo-nos para um estado de união com a natureza.
Fotografada com uma câmara digital de alta resolução (102MP), Fujifilm® GFX100.
Este projeto teve o generoso apoio da Fujifilm Portugal.