Exposição colectiva “Eça: 26 anos depois. Visões. Património. Ficções”

Impressão de jactos de tinta, 90x120cm ©2021 Helder Luis

Fotografia do Caminho de Jacinto, Tormes, Santa Cruz do Douro.
Caminho percorrido por Eça de Queirós em 1892, quando visitou Tormes pela primeira vez. Este caminho foi decisivo e serviu de inspiração para o livro “A Cidade e as Serras“. Fotografado com uma câmera digital de alta resolução (102MP), Fujifilm® GFX100.

A inauguração contou com a presença do presidente do conselho de administração da Filantrópica – Cooperativa de Cultura, CRL, Dr. Luís Alberto Oliveira, que forneceu uma estrutura cronológica para esta exposição de arte contemporânea coletiva com curadoria de Ana Romero e que esteve aberta ao público a partir de 26 de julho de 2021, todos os dias, das 15h às 19h.
A exposição “Eça – 26 Anos Depois” – Visões, Património e FicÇões “apresenta obras de 26 artistas plásticos: Adelaide Morgado, Afonso Pinhão Ferreira, Alexandre Carvalho, Ana Lima, Ana Romero, Ângela Oliveira, Armando Rodrigues, Carla Maciel, Carlos Góis Pino, Domingos Leite de Castro, Eva Andrade, Fernando Sousa, Guilherme Maio, Helder Luís, Isabel Braga, Isabel Lhano, Isac Romero, José Rosinhas, José Ribeiro, Lianor de Gaspar, Marco Santos, Maria do Carmo Vieira, Maria Rosas, Pedro Oliveira, Renato Carneiro.

©2021 A Filantropica

Decidi basear-me na obra de Eça de QueirósA Cidade e as Serras, para conceber uma imagem para esta exposição e, percebi imediatamente que teria de me deslocar a Tormes, local que inspirou a obra e, morada da Fundação de Eça de Queirós, para a fazer. Passei um dia inteiro em Tormes, ab- sorvendo a paisagem e, fazendo-me acompanhar de um pequeno texto adaptado do conto Civilização e da obra A Cidade e as Serras de Eça de Queirós

“Os vales fofos de verdura, os bosques quase sacros, os pomares cheirosos em flor, a frescura das águas cantantes, as ermidinhas branqueando nos altos, as rochas musgosas, o ar de uma doçura de paraíso, toda a majestade e toda a lindeza. Deixando resvalar o olhar observe os vales poderosamente cavados (…) os bandos de arvoredos, tão copados e redondos de um verde tão moço e sinta, por todo o lado, o esvoaçar leve dos pássaros.”

Eça de Queirós

A minha intenção era experienciar o percurso que Eça de Queirós percorreu, quando se deslocou a Tormes pela primeira vez em 1892, para visitar a propriedade herdada pela sua esposa. Para tal decidi fazer o percurso pedestre que, de acordo com o relato do romance A Cidade e as Serras, tem início na estação de comboios junto ao rio, prolongando-se serra acima, por caminhos de natureza, até à propriedade. Primeiro fiz o percurso inverso, descendo até à estação, que demorou cerca de uma hora. A subida, por sua vez, demorou cerca de duas horas. Numa das poucas ocasiões em que parei para decidir que caminho tomar e aproveitar para descansar à sombra de um túnel de vegetação, a imagem que escolhi para representar o texto acima mencionado, apresentou-se nesse momento à minha frente.
Apesar da paisagem ter sido alterada irremediavelmente pela mão do homem, a natureza ainda domina a maior parte do vale e, quando nos embrenhamos pelos seus caminhos, por momentos somos transportados para a época em que Eça de Queirós os percorreu. O verde exuberante, o som da água a correr no riacho, o chilrear dos pássaros, o aroma da fruta madura ainda nos pomares… tudo isso continua lá, elevando-nos a um estado de união com a natureza.