Na língua da maré

Book Trailer do livro “Na língua da maré”

Para assinalar o seu 80.º aniversário, a Mútua dos Pescadores desafiou Abel Coentrão e Helder Luís a conceberem uma obra com gente dentro, que sentisse o pulso do sector marítimo, que lhe perguntasse de onde veio, o que ficou da longa e dura caminhada e se ainda lhe resta mar por onde seguir. Este livro, acreditamos, contribuirá para uma melhor compreensão do peso simbólico, económico, social e político do sector em Portugal. E esperamos, através dele, valorizar as vidas das pessoas e das comunidades, que são, desde o primeiro dia, a razão de ser desta cooperativa de utentes de seguros fundada em 1942.

Segundo o grego Diógenes Laércio, quando perguntaram ao sábio Anacársis se seriam mais numerosos os vivos ou os mortos, este terá redarguido: “Em que categoria pões os navegantes?”. Se saiu desta discussão a famosa máxima que definiu três tipos de homens, os vivos, os mortos e os que andam no mar – que amiúde surge atribuída a Platão em epígrafes de obras sobre temas marítimos –, é algo que não sabemos. O que sabemos é que a frase esquece uma outra categoria de homens, na qual os autores deste livro se incluem: os que vivem voltados para o mar. Saída de uma viagem pela língua da maré, esta obra é uma fiada de crónicas, diálogo entre texto e fotografia sobre algumas das nossas comunidades marítimas. E reflete, a partir de terra, sobre anseios, preocupações, sonhos e realizações
de homens e mulheres que procurámos, ou fomos encontrando, pelo caminho, que vivem nessa estranha circunstância de merecerem a admiração dos vivos, sem que, entre estes, haja quem os queira imitar. Num “país de marinheiros” em que há cada vez menos pescadores, ser do mar vem ganhando novos contornos, que, aqui e ali, tentámos apreender, mas persiste, sobretudo, como marca identitária de muitas biografias. Não sabemos se, como dizem algumas fontes, Anacársis foi o inventor da âncora de duas pontas, mas vimos, neste caminho, o quanto esta nos segura aos lugares onde queremos estar.