{"id":1324,"date":"2022-11-06T11:02:07","date_gmt":"2022-11-06T11:02:07","guid":{"rendered":"https:\/\/www.helderluis.pt\/?page_id=1324"},"modified":"2024-02-20T15:36:36","modified_gmt":"2024-02-20T15:36:36","slug":"sleeping-giants","status":"publish","type":"page","link":"https:\/\/www.helderluis.pt\/works\/sleeping-giants\/","title":{"rendered":"Sleeping Giants"},"content":{"rendered":"\n
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Sleeping Giants, 2021<\/figcaption><\/figure>\n<\/div>\n\n\n\n
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Sleeping Giants, 2021<\/figcaption><\/figure>\n<\/div>\n<\/div>\n\n\n\n
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\u201cAs \u00e1rvores s\u00e3o santu\u00e1rios. Quem souber como falar com elas, quem souber como escut\u00e1-las, poder\u00e1 aprender a verdade. Elas n\u00e3o pregam erudi\u00e7\u00e3o ou f\u00f3rmulas, elas pregam, sem se perderem em detalhes, a ancestral lei da vida.\u201d<\/p>\nHermann Hesse<\/em><\/cite><\/blockquote>\n\n\n\n

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“Sleeping Giants” (Gigantes Adormecidos) fotografado na sua maioria durante o confinamento pand\u00e9mico de 2021 em Portugal, foi a minha resposta \u00e0 paisagem desoladora da cidade e ao sil\u00eancio que experienciei durante os meus passeios noturnos. Nessa altura, caminhava entre uma a duas horas, todos os dias, \u00e0 noite, e, depois de algum tempo em busca de alguma sabedoria ou orienta\u00e7\u00e3o, encontrei as \u00e1rvores.
No in\u00edcio, os meus passeios situavam-se sobretudo \u00e0 beira-mar, em boa parte devido \u00e0 liga\u00e7\u00e3o ao trabalho de fotografia documental em que estou envolvido, mas um dia decidi aventurar-me pelas ruas vazias da cidade. Nessa altura n\u00e3o havia um \u00fanico ser humano \u00e0 vista e os poucos seres vivos ao meu redor eram as \u00e1rvores. Ent\u00e3o comecei a contempl\u00e1-las, a observ\u00e1-las detalhadamente e, eventualmente, a fotograf\u00e1-las.
O t\u00edtulo \u00e9 uma refer\u00eancia \u00e0s \u00e1rvores como gigantes. N\u00e3o como as gigantescas Sequoias, mas, ainda assim, como enormes seres vivos, muito maiores do que n\u00f3s e que experienciam a vida numa escala de tempo completamente diferente da nossa. Talvez devido a isso os percecionamos como s\u00e1bios.
Seres adormecidos porque fotografei no inverno, altura em que a maioria das \u00e1rvores j\u00e1 perdeu as suas folhas e, tamb\u00e9m, porque, durante a noite, mesmo as que guardam as folhas, depois de um longo dia de fotoss\u00edntese, relaxam os ramos e entram num estado que, na sua maior parte, se assemelha ao nosso padr\u00e3o de sono. No entanto, no inverno a maioria hiberna.<\/p>\n\n\n\n

Muito tempo deve ter passado at\u00e9 o ser humano ter adquirido estatura mental suficiente para admirar uma \u00e1rvore em toda a sua gl\u00f3ria, com a sua folhagem completa, mas muito mais tempo foi certamente necess\u00e1rio at\u00e9 a alma humana se ter entregado \u00e0 incr\u00edvel beleza dos ramos nus de uma \u00e1rvore.
H\u00e1 algo no esplendor esquel\u00e9tico das \u00e1rvores, no inverno, t\u00e3o vascular, t\u00e3o axonal, t\u00e3o pulmonar que nos leva a admir\u00e1-las e a respeit\u00e1-las em todo o seu esplendor fractal.
No inverno somos levados a pensar nas \u00e1rvores como criaturas frias, nuas e at\u00e9 sombrias. Pedimos-lhes que esperem at\u00e9 estarem novamente vestidas de verde para lhes voltarmos a prestar aten\u00e7\u00e3o. No entanto, \u00e9 durante esse tempo de descanso, no inverno, que a \u00e1rvore se ergue, dispon\u00edvel e vulner\u00e1vel, para nos revelar todos os seus segredos. \u00c9, de facto, durante este per\u00edodo que a \u00e1rvore mais revela a sua individualidade e resili\u00eancia.
O ver\u00e3o \u00e9 o per\u00edodo em que a \u00e1rvore est\u00e1 menos dispon\u00edvel. Atarefada por tr\u00e1s do seu misterioso v\u00e9u verde, a \u00e1rvore est\u00e1 t\u00e3o assoberbada com os seus processos de manuten\u00e7\u00e3o e de crescimento que n\u00e3o tem tempo para confid\u00eancias e s\u00f3 de vez em quando nos faz uma sauda\u00e7\u00e3o amig\u00e1vel.<\/p>\n\n\n\n

Cada chuva que cai, cada mudan\u00e7a de temperatura que ocorre, cada vento que sopra deixa um registo da sua passagem nos an\u00e9is das \u00e1rvores. Uma marca codificada sobre o passado, t\u00e3o precioso como os nossos livros e dados digitais. Impercet\u00edvel para n\u00f3s, no entanto, n\u00e3o menos permanente e talvez at\u00e9 mais duradouro do que a nossa pr\u00f3pria tecnologia digital.
\u00c9 dif\u00edcil para n\u00f3s, seres humanos, presos ao pequeno talh\u00e3o de espa\u00e7o-tempo que nos foi atribu\u00eddo, sem termos escolhido onde ou quando nascer e destinados a viver n\u00e3o mais do que uma fra\u00e7\u00e3o de segundo do tempo evolutivo, entendermos o tempo numa escala para al\u00e9m da nossa exist\u00eancia individual. Nesse aspeto, as \u00e1rvores podem ser os nosso guias, pois remedeiam a nossa perda de perspetiva como gigantes telesc\u00f3pios apontados para o passado e como portais para um poss\u00edvel futuro. E, ainda, como ve\u00edculos para a nossa imortalidade, quando deixarmos de respirar e nos tornarmos composto para futuras florestas.
Como reflex\u00e3o, trazida \u00e0 consci\u00eancia por este trabalho, e em tempos t\u00e3o desafiadores como estes, facilmente chegamos \u00e0 conclus\u00e3o de que somos n\u00f3s, de facto, os gigantes adormecidos. Prontos a acordar de um longo sonho de inconsci\u00eancia, para nos tornarmos os seres incr\u00edveis que estamos destinados a ser. Temos de aprender a viver neste planeta como um s\u00f3 e n\u00e3o agir como uma esp\u00e9cie superior, que pouco mais faz do que um p\u00e9ssimo trabalho a cuidar de si e deste incr\u00edvel jardim.
Espero que um dia, ao colocarmo-nos nos ombros destes gigantes, possamos ver para al\u00e9m dos nossos egos e perceber quanta beleza existe \u00e0 nossa volta e em n\u00f3s mesmos. Basta pararmos para ouvir o sil\u00eancio ecoado por estes seres incr\u00edveis.<\/p>\n\n\n\n

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Entrada da exposi\u00e7\u00e3o na Biblioteca Rocha Peixoto, P\u00f3voa de Varzim \u00a92023 Helder Lu\u00eds<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n
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Fotografia 70x50cm \u00a92023 Helder Lu\u00eds<\/figcaption><\/figure>\n<\/div>\n\n\n\n
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Fotografia 70x50cm \u00a92023 Helder Lu\u00eds<\/figcaption><\/figure>\n<\/div>\n<\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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