Este projeto, inicialmente realizado em 2019 no âmbito de uma residência artística promovida pelo mestrado de Fotografia e Cinema Documental da ESMAD em Sever do Vouga, permitiu-me repensar e representar o rio não apenas como um elemento físico da paisagem, mas como uma entidade viva e uma parte integrante do nosso inconsciente coletivo.
Simbolicamente, o rio representa o fluxo do tempo e o ciclo eterno da natureza, com todas as suas transições, transformações e passagens. Um rio nasce como uma nascente no topo da montanha, descendo e serpenteando através de vales e planícies, até se perder em lagos ou mares. A sua origem está sempre presente ao longo do seu percurso, visível nas suas margens. Esta dualidade entre o rio e o reflexo das suas origens cativou-me, e ao longo do projeto tentei capturar essa essência através do reflexo das árvores e das montanhas na superfície da água.
Há um rio para cada pessoa que nele mergulha, e no sentido simbólico do termo, penetrar no rio é como uma alma que entra num corpo. Tal como o rio, o nosso corpo tem uma existência efémera, fluindo como a água, e cada alma tem o seu corpo particular, essa parte transitória da sua existência… o seu rio.
O rio lembra-nos que devemos seguir em frente. Quando tentamos regressar ao passado, somos engolidos numa tentativa fútil de desafiar o fluxo natural da vida.
Durante a sua longa jornada, o rio simboliza a vida em geral e a nossa vida em particular. Há períodos em que o rio, assim como nós, enfrenta turbulências, caos e perturbações, sofrendo reviravoltas, curvas e pausas. E depois há períodos em que o rio flui pacificamente, suave e calmamente.
Finalmente, chega o momento em que o rio termina a sua longa viagem. Este é o momento em que o rio alcança a sua foz e se submete à sua maior transformação, tornando-se parte do vasto mar. Para nós, este momento de transição simboliza a profunda transformação que ocorre quando a nossa longa jornada chega ao fim. É o momento em que passamos por uma mudança, para nos reintegrarmos na grande consciência que os taoistas conhecem como Tao.
O rio é uma das mais belas metáforas para esta complexa viagem a que chamamos Vida!
* Fotografado com uma câmera digital de médio formato (Fujifilm GFX-50R).
Este projeto teve o generoso apoio da Fujifilm Portugal.