A residência artística MARPVZ|19/20, apoiada pela Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, surge depois da instalação MAR, que concebi a convite do Museu de Arte Contemporânea de Serralves e que esteve instalada na Capela de Serralves em junho de 2018. Resulta do meu envolvimento com a temática da cultura marítima que me tem acompanhado desde então.
Durante a produção da instalação MAR embarquei em vários barcos de pesca e a experiência que daí resultou tocou-me de uma forma que ainda hoje não consigo compreender na totalidade.
É difícil explicar se foi apenas a experiência de estar no mar, a partilha e a cumplicidade com os pescadores, que me aceitaram como um deles, ou então se foi algo mais que se revelou, inesperadamente, dentro de mim.
A residência artística permitiu expandir o trabalho artístico à volta do mar, que explorei com a instalação MAR, e posteriormente com a instalação Under the Above para a Solar – Galeria de Arte Cinemática em Vila do Conde. Permitiu desenvolver um trabalho documental relacionado com a pesca e pensar sobre o mar e sobre as pessoas que ainda hoje vivem nele e dele. O objetivo da residência artística foi, e continua a ser, apresentar este trabalho sob a forma de objetos artísticos, mas principalmente, como documentos que perdurarão no tempo e serão testemunhos no futuro de um período singular no qual ainda permanecem alguns vestígios de uma relação com o mar remotamente semelhante àquela que os nossos antepassados tiveram e que, dentro de muito pouco tempo, deixará de existir por completo.
A residência artística arrancou simbolicamente em março de 2019 com a exibição, no Cine-Teatro Garret, do vídeo da instalação MAR.
O primeiro projeto, intitulado Atlântico, apresentado em julho de 2019, documenta as minhas viagens a bordo do Íris do Mar, desde a Póvoa de Varzim até Ponta Delgada e ao largo dos Açores. Desse projeto resultou um livro e uma exposição que esteve inicialmente exposta no Museu Municipal da Póvoa de Varzim e que em 2022 passou pelo Museu Marítimo de Ílhavo e continuará a circular por outros espaços.
O segundo projeto, Sardinha, demorou quatro anos a ser concluído. Não só porque foi interrompido durante quase dois anos pela pandemia, mas também porque adquiriu uma dimensão e uma escala que não estava inicialmente prevista. O que estava para ser um projeto de âmbito local sobre a pesca da sardinha transformou-se num projeto à escala nacional sobre a pesca do cerco. O livro Sardinha foi apresentado em fevereiro de 2023 no Correntes d’Escritas e logo a seguir no Diana Bar, na Póvoa de Varzim. Desde então tem sido apresentado um pouco por todo o lado. É agora mostrado ao público sob a forma de uma exposição no Diana Bar que irá posteriormente circular pelo país fora.
Em fevereiro de 2025, apresentarei o evento multimédia Supplica na Igreja da Lapa, em evocação à tragédia de 27 de fevereiro de 1892.
O projeto final, intitulado 7 Barcos, 7 Vidas, 7 Mares, deverá ser apresentado durante o ano de 2025. É um projeto extenso e complexo e tem vindo a ser desenvolvido desde o início da residência artística. Resultará num livro e numa exposição de fotografia documental.