Algumas florestas são mais do que simples aglomerados de árvores e vegetação. São espaços sagrados. Lugares onde o tempo parece estar suspenso e onde o espírito da Terra se manifesta em formas tangíveis e intangíveis. Estas florestas têm sido, ao longo dos séculos, fontes de inspiração, mitos e espiritualidade. São lugares onde a natureza revela os seus segredos mais profundos e onde o ser humano pode encontrar uma conexão mais íntima com o mundo natural e com a sua própria essência.
Em várias culturas europeias, as florestas são vistas como moradas de deuses, espíritos e seres mágicos. Elas são retratadas como portais para outros reinos, onde as fronteiras entre o mundo físico e o espiritual se desvanecem. Nestes santuários naturais, cada árvore, cada pedra e cada riacho tem uma história para contar, uma memória a preservar. A espiritualidade ancestral destas florestas está enraizada na reverência pela natureza e no reconhecimento de que todas as formas de vida estão interligadas.
Os celtas realizavam cerimónias em bosques sagrados chamados nemeton, onde celebravam festivais sazonais como Samhain e Beltane com rituais de fogo e sacrifícios simbólicos, usando plantas sagradas para criar poções e encantamentos curativos. Nas regiões germânica e escandinava, as florestas eram vistas como moradas dos deuses, onde tribos antigas honravam divindades como Odin e Thor com oferendas e praticavam o seidr, um xamanismo nórdico, e a leitura de runas para prever o futuro. Os gregos antigos encontraram nas florestas uma ligação espiritual, como na Floresta de Dodona, onde os sacerdotes interpretavam os sussurros das folhas dos carvalhos sagrados para transmitir mensagens de Zeus. Os eslavos viam as florestas como santuários habitados por deuses e espíritos, realizando rituais em torno de árvores sagradas para proteção e cura, utilizando amuletos e ervas medicinais.
Hoje, estas tradições ancestrais influenciam práticas espirituais modernas como o neopaganismo e a Wicca, que continuam a realizar rituais nas florestas para celebrar os ciclos da natureza e a meditar com os elementos naturais para manter viva a ligação espiritual com a Terra.
Em Portugal, existem várias florestas que evocam ainda uma profunda conexão com a natureza e a espiritualidade. A Floresta Laurissilva da Madeira, Património Mundial da UNESCO, destaca-se pela sua vegetação subtropical e grande biodiversidade. A Mata Nacional do Buçaco, plantada pelos monges Carmelitas no século XVII, é rica em espécies botânicas e locais de culto. Na Serra da Arrábida, uma área protegida com florestas mediterrânicas, encontram-se antigos conventos e ermidas. A Floresta do Corno de Bico, em Paredes de Coura, oferece uma densa vegetação de carvalhos e castanheiros, proporcionando tranquilidade e biodiversidade. Por fim, a Mata do Bussaco, cuidada por monges Carmelitas, abriga diversas espécies arbóreas e locais de peregrinação e culto. Estas florestas são importantes não apenas pela sua biodiversidade, mas também pelo seu valor cultural e espiritual, proporcionando espaços de introspeção e conexão com a natureza.
Este projeto olha para estas florestas com a mesma reverência que as culturas ancestrais lhes dedicaram, reconhecendo a sua importância tanto pela riqueza natural quanto pelo seu valor espiritual. Estas florestas não são apenas reservas de biodiversidade, mas também santuários culturais e espirituais que oferecem a oportunidade de introspeção e uma profunda conexão com a natureza.